segunda-feira, 19 de novembro de 2007


ESPELHO, ESPELHO MEU
Gracinda Calado


Cada vez que te olho, tu ris de mim.
Por que, espelho meu?
Onde estão meus olhos que nunca se cansaram de te olhar?
Onde ficaram o brilho de meu olhar e a maciez de minha pele?
Onde deixaste o meu sorriso que muitas vezes te sorriu?
O que fizeste com minha face, agora triste, envergonhada, envelhecida?

A tua vingança é cruel, meu espelho companheiro.
Pensei que o tempo não me decepcionaria nunca.
Já não corro atrás dos dias de bonança, nem das brincadeiras, nem das festas fagueiras.
Sobra-me algo precioso é minha vontade de viver!

Eu não tinha essa face, assim triste, nem esse sorriso amarelo, nem essas rugas profundas.
Meus olhos eram grandes e castanhos, agora nem sei mais qual é a cor...
Meus ombros estão pesados desse fardo, depois de tantos anos carregando-o.
Meu coração agora pulsa em silencio, estampado em meu rosto a sua marca.
Agora só decepção do espelho que não me responde, pois o tempo é o culpado dessa triste verdade, que guardarei comigo para sempre.
Ò espelho, espelho meu, haverá alguém mais feliz do que eu?

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