sábado, 28 de fevereiro de 2009

QUANDO OS IPÊS FLORESCEM


QUANDO OS IPÊS FLORESCEM
Gracinda Calado

Gotas de orvalho nas manhãs ensolaradas, parecem pérolas caindo, escorregando nos Ipês floridos.
Na multiplicidade de cores e de flores, nossa mente enche-se de ternura, nosso peito de alegria louca naquelas manhãs na serra.
Nos barreiros deslizando o barro escuro, parece que a natureza chora enquanto a lágrima cai serena.
Na folhagem o sol suga sua pele bebendo toda sua água cristalina.
Das alturas fileiras de Ipês se enrolam e se misturam as outras flores com vontade de abraçar. Milhares de cachos e flores pequeninas caem como chorões de cores, se misturam ao roxo, amarelo, azul e anil das flores ‘miosótis brasis’.
No chão a toda hora o vento tece um tapete de pétalas que logo se transformarão em alimento para as outras plantas.
No tapete de folhas secas os calangos fazem brincadeiras e correm atrás dos besouros que se afoitam em aparecer naquela hora de lazer.
Milhares de borboletas voam em direção ao sol para aquecer suas asas multicores.
No alto dos Ipês floridos pulsam corações pequeninos que cantam canções canoras no bico dos sabiás e dos canários, dos rouxinóis e dos pintados. O canto orquestrado se ouve a distancia como uma bela orquestra teatral.
No coração da serra, o nosso sangue pulsa ao ver os Ipês floridos e tanta beleza naquele lugar. O fôlego aperta o nosso peito ao testemunhar a grandeza exuberante daquele lugar! A natureza em festa sacia-se ao perfume dos Ipês floridos.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

QUARTA FEIRA DE CINZAS


QUARTA FEIRA DE CINZAS
( Gracinda Calado)

E lá ficou meu coração!
Nos salões da minha vida,
Lá ficou meu olhar de jovem
Intenso, bonito, juvenil.

O cheiro de lança perfume no ar,
E os salões cheios de serpentinas,
Confetes, lantejoulas, purpurinas,
E um coração feliz na noite de carnaval.

A madrugada chega de mansinho
E os apaixonados bem juntinhos,
Abraçam-se cheios de mistérios
A noite leva com ela toda a alegria...

O folião sonhando acorda na rua,
Não vê que a noite se foi e o sol saiu.
Quarta-feira ingrata e malvada,
Arrasa corações, arrasta solidões.

Quarta que chega recolhendo restos
De nós dois, de foliões de ilusões.
Quarta das saudades e dos cacos
De sonhos das manhãs de fevereiro.

Na rua alguém chora a noite que sumiu
Ligeira, quente abrasadora, mágica,
Sensual, fagueira, chora o amor que partiu,
E agora até outro carnaval, adeus!

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

SEMANA SANTA


SEMANA SANTA

Gracinda Calado


As manhãs eram fagueiras, deliciosas. O vento aparecia em forma de brisa beijando nossos cabelos. A casa era cheia de gente que passava pra lá e pra cá, sem canto certo pra ficar.
Quantos anos se passaram naquela casa ás margens do rio da minha infância! Na inquietação daquele dia ouvia-se a voz de minha mãe que não parava de falar na grande cozinha da chácara preparando o almoço do dia de Páscoa!
De longe se sentia o cheiro do bacalhau com coco no fogão à lenha e os bolinhos de bacalhau no forno!
Na brincadeira daquele dia de festa fazíamos de conta que jejuávamos e mamãe fazia de contas que acreditava. À hora do almoço era mágica! O melhor vinho, a melhor comida, a melhor sobremesa e a maior alegria da família, pois todos estavam reunidos para comemorar a ressurreição do salvador dos homens.
Depois do almoço novas brincadeiras, o banho de rio, enquanto esperávamos o sol declinar. À noite, as orações, e um ligeiro cansaço das movimentações do dia que passou!
Por que tudo mudou?
Hoje só tenho imagens e recordações fortes. Sinto cheiro, vejo cor,ouço as musicas que nos embalavam, ouço os gritos da garotada correndo solta pela casa inteira, a me chamar!
Meu pai, que figura maravilhosa! Abraçava a todos sempre com um sorriso nos lábios e no rosto a expressão da felicidade!
Nem me dei conta que o tempo passou! Nem me dei conta que estou só com minhas lembranças, que são só minhas e que levarei para sempre comigo onde eu for. Feliz Páscoa!

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

CARNAVAIS PASSADOS


CARNAVAIS PASSADOS
Gracinda Calado

Ainda lembro com saudades os dias de carnaval onde a fantasia dava lugar à ilusão de três dias de folia.
A música melodiosa e envolvente entrava em nossas cabeças e em nossos poros tomando conta de todo nosso ser.
Nos salões da alegria vultos se juntavam às alegorias, dançavam e desabafavam tudo que preso estava em suas almas e seus corações.
Casais de namorados brincavam agarradinhos, com carinho se beijavam como se a noite fosse a ultima de felicidade.
Outros pares se encontravam nos salões e repetiam momentos especiais de um pierrô com uma colombina na noite fatal do amor.
Corpos embriagados pela alegria, pelo vinho ou pela musica, deixavam-se entregar encantados com a magia daquela noite.
A orquestra não parava de tocar e os corações não paravam de bater forte no esplendor daquela noite mágica esperando a madrugada.
Desencontros se manifestavam pelos salões pela perversidade do ciúme de um arlequim que de tanto se apaixonar se entregou aos caprichos de uma alegria passageira.
Casais de namorados se conheceram e se encontraram naquela noite de encantamentos e guardam para sempre lembranças eternas de eternos carnavais de outrora.
Canções penetraram em nossos corações como sangue em nossas veias e permanecem para sempre gravadas em nossa memória.
Adeus aos foliões das noites embaladas pelas músicas e o cansaço de pular, vibrar, cantar e amar!

OLHA-ME...


OLHA-ME...

Gracinda Calado

Olha-me com olhos de quem vê a luz do dia,
Olha-me como se pudesses olhar no espelho.
Veja em meus olhos tua imagem pura
Eles são dois faróis a ti guiar na altura.

Abraça-me e me deseja muita sorte
Como quem fica e como quem parte,
Ampara-me nessa hora amarga,
Como quem carrega um fardo forte.

Fala comigo diz alguma coisa,
O silencio fala, mas não escuto,
Quero ouvir de tua boca ainda
Palavras de amor que tanto curto.

Beija-me como se o beijo fosse o ultimo,
Afasta-me de ti como quem foge,
Sinto-me forte nessa tarde fria,
Sem saber quem sou e quem tu és.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

FLORES NA JANELA


FLORES NA JANELA
Gracinda Calado

Canteiros floridos enfeitam meus dias,
Rosas de primavera perfumam minha alma,
Ramalhetes coloridos alegram nossas vidas.

Na janela meus canteiros de lindas rosas,
Insinuam tanta beleza e apagam as cicatrizes,
Recordações de primaveras amorosas.

Botões que desabrocham cores lindas,
Ao primeiro raio de luz do sol nascente,
Enchem de pura beleza as orquídeas.

Em meu peito de ilusões e de saudades,
Mora um canteiro de rosas que é só meu,
Em cada flor uma “saudade” tua,
Que em meu peito solitário floresceu!

Em cada flor te vejo alegre todo dia,
Em cada canto uma saudade amiga,
Em cada cor o teu sorriso é melodia,
Em cada perfume uma lembrança antiga.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

O MISTÉRIO DA RESSURREIÇÃO


O MISTÉRIO DA RESSURREIÇÃO

Gracinda Calado

O túmulo se abriu, uma luz brilhou, Jesus ressurgiu no seu esplendor!
O céu se transformou, as nuvens escureceram mostraram o sinal.
O sinal do amor, da grandiosidade do mistério, da perfeição, da união de Jesus com o Pai. Completara-se assim a promessa do Salvador!
Subiu aos céus, para honra e glória de Deus e para nossa salvação!
Os apóstolos escondidos atordoados, inquietos, esperando uma resposta do mestre, quando de repente, as mulheres suas amigas, vão ao túmulo de Jesus.
Para seu espanto, ele havido desaparecido, subiu ao céu de corpo e alma, levando consigo o fardo de nossos pecados.
Nesses dias entrou em contato com seus amigos e comprovou tudo que havia prometido e acreditou na fé dos seus apóstolos.
Alegria no coração de todos os que amavam Jesus, os que o acompanhavam, os que criam nele e na força de suas promessas.
Uma luz brilhou e o túmulo se abriu, uma estrela surgiu e o céu recebeu o filho e Deus!

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

A DANÇA DAS BORBOLETAS


A DANÇA DAS BORBOLETAS
Gracinda Calado

Uma borboleta chegou muito faceira, invadiu o jardim e ficou.
Dançou e rodopiou na roseira.
Chegou assim de repente, sem pedir licença a ninguém.
Fez festa nas flores, sugou o mel de todas elas e dançou.
Chegaram outras borboletas...
Na dança das borboletas eu sonhei.
Na dança das borboletas eu imaginei você sorrindo...
Na dança das borboletas o seu amor era lindo...
Era lindo, colorido de cores sem igual.
A borboleta faceira era azul me entreguei,
A borboleta vermelha era a bailarina, dancei.
As cores rosadas eram das borboletas elegantes, não competi.
A borboleta amarela era a mais singela, atrativa e sensual...
No meu sonho eu era a borboleta lilás, agressiva, poderosa sem igual.
Você fazia parte do meu sonho, das minhas cores e da minha vida.
Você era a roseira preferida de todas as borboletas do jardim.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

AMORES QUE VIVI


AMORES QUE VIVI
Gracinda Calado

Quantos amores eu vivi,
Um dia eu farei versos,
Rindo dos reversos
Do meu coração infantil.

Quantos amores conheci,
Amores de pai, mãe, irmãos,
Amores de esposo e de filhos,
Quantas canções eu cantei!

Quantos braços e abraços
Fizeram-me parar a solidão,
Quantos deles eu chorei,
Por mim choraram também.

Quantas vezes eu os beijei,
Chorei, sofri, sorri, brinquei,
Lembranças como brinquedos,
Que em toda a minha vida vivi.

Agora choro as saudades nos versos,
Que hoje faço viver em cada canto,
Recantos de algumas lembranças,
Que sobraram com seus encantos.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

AQUI JAZ


AQUI JAZ
Gracinda Calado

Aqui jaz um corpo frio
Já foi sacrário da minha alma,
Corpo das minhas fantasias.

Libertou-se do medo e do egoísmo,
Foi refugio dos seus pensamentos
Cárcere dos seus lamentos.

Aqui jaz um corpo sem vida
Preso ao martírio dos amores
Uniu-se a lápide dos esquecidos.

Aqui jaz quem já viveu
Deu tudo pelos amores seus,
Na matéria se desfez,
Fundiu-se à terra sua mãe.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

PRIMAVERA


PRIMAVERA
Gracinda Calado

A primavera já aponta o seu sinal.
As flores estão mais alegres, mais viçosas, mais perfumadas!
O céu é mais azul, as nuvens dançam no firmamento, brancas como algodão.
Nos jardins da cidade as rosas e os bugaris, as avencas, margaridas e papoulas, se abrem anunciando a chegada dessa estação!
Os rios correm mais velozes pela força do vento; as noites são mais frescas e agradáveis.
Os ipês são mais floridos, cobertos pelo amarelo e roxo de suas flores tropicais.
No alto das serras, o verde é mais brilhante e o clima mais ameno.
No coração de cada um de nós mora uma saudade, uma alegria, uma esperança.
À noite a lua vem beijar o mar com seu clarão.
As estrelas piscam como os vaga-lumes clareando a escuridão das matas.
Os caminheiros e viajantes passam nas estradas solitárias, iluminadas de dia pelos raios do sol que se fazem presentes, nos dias de primavera.
Nas grandes e pequenas árvores os pássaros fazem seus ninhos e chocam seus ovinhos enquanto o frio não chega.
De longe se ouve seus gorjeios nas manhãs de primavera.
Os peixes nadam felizes nos rios e nos lagos oferecendo a todos o alimento necessário à vida.
Tão bom que todos os dias fossem de primavera!

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

INVERNO NA SERRA


INVERNO NA SERRA
Gracinda Calado

Seis horas da manhã, o sol ainda se esconde atrás das montanhas que fazem o Maciço.

A chuva cai silenciosa, pertinente, encharcando toda a terra.
De longe se avista uma cadeia de ondulações que enchem os olhos da gente.
Tudo se afasta de nós quando a chuva apressa-se em cair mais forte.
As ladeiras são desafiantes aos que passam naqueles lugares lisos como sabão.
As frutas ficam molhadas penduradas nos galhos das árvores esperando o sol.
Tudo desaparece de nossa visão encoberto pela serração do lugar.
Os rios transbordam em agonia louca, devorando tudo que se esconde em suas margens.
A travessia é difícil de fazer e a chuva não para de cair.
Trovões soam como estouro e o eco responde do outro lado da serra.
Raios cortam os céus iluminando tudo por um momento.
Em casa a gente se esconde nos cobertores e a temperatura é de 0°c.
Para amenizar o frio um bom café ou uma xícara de chocolate ainda na cama.
As horas passam. Meio dia ainda tudo escuro, como se o céu fosse todo desabar.
Uma pequena bola de luz aparece tímida e logo escurece novamente.
Nas árvores as borboletas e as cigarras se escondem. Os pássaros esperam a estiagem para sair dos seus ninhos. Nas grutas escuras os morcegos se inquietam para esquentar o frio daquela noite que se aproxima.
Os pássaros esperam a estiagem para sair dos seus ninhos. Nas grutas escuras os morcegos se inquietam para esquentar o frio daquela noite que se aproxima.
Mais uma noite na solidão daquele lugar misterioso e calmo.