terça-feira, 30 de setembro de 2008

FIM DE TARDE


FIM DE TARDE
Gracinda Calado

Fim de tarde no horizonte,
O sol despede-se do dia,
Cobrindo todos os montes.

O mar cintila como prata
Como contos de sereia,
Invadindo toda areia.

Últimos raios quase mortos,
Cobrem toda a serrania
Na hora triste da ave- Maria.

Fim de tarde na minha alma,
O céu cobre-se de vermelho,
O mar parece um grande espelho.

Lágrimas rolam no meu rosto,
De saudades e de incertezas,
Enchem meu peito de tristeza.

No fundo azul do mar,
Ondas brincam num balé,
Parecem que vão voar.

Jangadas despedem-se do mar,
Numa linda procissão,
Já é hora de voltar.

domingo, 28 de setembro de 2008


A MOÇA DA COLINA
Gracinda Calado

Ela morava na colina e todos os dias ia olhar o mar, passear na areia branca da praia.
À noite quando estava tudo calmo ela saía sem medo e sem segredo ia sentar-se nas pedras para olhar a lua.
Conversava com a lua e as estrelas; fazia seus pedidos aos seus deuses e esperava que um dia acontecesse um milagre.
A rotina estava lhe deixando cansada.
Contava as estrelas, sentia o vento soprar nos seus ouvidos, sentia o silencio da noite,
Mas não tinha solidão.
A Moça da colina, certa vez foi olhar o luar e se esqueceu das horas, dormiu e quando acordou era manhã.
O mar estava agitado e quase beijando seus pés.
Ficou ali mais um instante e resolveu passear na praia.
De longe viu algo boiando na quebrada das ondas, entrou no mar e pegou o objeto de sua curiosidade. Era uma garrafa, com uma mensagem, bem lacrada. Abriu a garrafa e leu o que estava escrito.
O autor da mensagem era um alemão. Seu nome era Gerald Fristel.
Tudo indicava que era uma pessoa solitária e desejava casar com uma moça que gostasse do mar e da natureza.
Era marinheiro. A solicitação que fazia era: “quem encontrar esta garrafa escreva pra mim ou telefone para o numero “x”; se for mulher quero conhecê-la para casar.”
A moça da colina não teve duvidas fez tudo direitinho.
Hoje vive com seu marinheiro, na colina e todos os dias eles vão olhar o mar e agradecer a Deus o presente que o mar lhes deu.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

OLHANDO O CÉU


OLHANDO O CÉU
Gracinda Calado

Quando olho o céu sinto uma imensa paz,
Penso em tudo que ganhei e tudo que recebi.
Meu pensamento voa alto, ao me encontrar,
Com as estrelas e com as nebulosas.
Em um cantinho elas vivem sem fazer mal a ninguém,
E tão distante elas estão, nem se lembram de nós.
Em seus corações, parece pulsar o sangue do universo,
Em comunhão com as galáxias e os furacões do astral.

Nossos corpos parecem que são movidos pelos astros,
Pelos corpos celestes, pelos planetas e cometas do céu.
À noite é uma festa de cores no firmamento.
Nossa alma é tão pequena no coração do espaço!
Homens bravos, guerreiros descobriram seus valores siderais.
Milhões de estrelas e poeiras de estrelinhas se perdem na amplidão.
Longe lá longe estão a nos olhar com seus olhos estelares,
A lua, tão nua nos seus íntimos pudores nos encanta e fascina!

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

PRIMAVERA


PRIMAVERA
Gracinda Calado

A primavera já aponta o seu sinal.
As flores estão mais alegres, mais viçosas, mais perfumadas!
O céu é mais azul, as nuvens dançam no firmamento, brancas como algodão.
Nos jardins da cidade as rosas e os bugaris, as avencas, margaridas e papoulas, se abrem anunciando a chegada dessa estação!
Os rios correm mais velozes pela força do vento; as noites são mais frescas e agradáveis.
Os ipês são mais floridos, cobertos pelo amarelo e roxo de suas flores tropicais.
No alto das serras, o verde é mais brilhante e o clima mais ameno.
No coração de cada um de nós mora uma saudade, uma alegria, uma esperança.
À noite a lua vem beijar o mar com seu clarão.
As estrelas piscam como os vaga-lumes clareando a escuridão das matas.
Os caminheiros e viajantes passam nas estradas solitárias, iluminadas de dia pelos raios do sol que se fazem presentes, nos dias de primavera.
Nas grandes e pequenas árvores os pássaros fazem seus ninhos e chocam seus ovinhos enquanto o frio não chega.
De longe se ouve seus gorjeios nas manhãs de primavera.
Os peixes nadam felizes nos rios e nos lagos oferecendo a todos o alimento necessário à vida.
Tão bom que todos os dias fossem de primavera!

terça-feira, 23 de setembro de 2008

PENSEI FALAR DE AMOR


PENSEI FALAR DE AMOR
Gracinda Calado

Pensei um dia falar de amor,
Sentimento que não se desgasta,
Pensei falar de dor, e inspiração,
Pensei falar de amor e basta.

Sentimento cruel, às vezes fala,
Sangra o peito, o sentido coração,
Mas às vezes acalenta a dor e cala
Apaga as cicatrizes da paixão.

O amor e a despedida são parceiros,
São estranhos vendavais de emoções,
Ninguém resiste a uma despedida,
Ninguém resiste a uma separação.

O amor nasce de uma saudade,
De uma emoção, de um desejo,
De um momento de vaidade,
De um sentimento, de um beijo.

Falar de amor é recordar também,
É sofrer, é sentir forte paixão,
Não tem dono, não é terra de ninguém,
Não tem dono, mas sofre por alguém.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008


AH O AMOR!
Gracinda Calado


O amor engana muita gente.
O amor é um vaso fino de cristal,

ao pequeno toque cai e quebra-se.
O amor é um sentimento que se confunde com a paixão.
O amor deixa feliz qualquer coração.
Pode ser mulato ou preto, branco ou índio,
Ele não escolhe abrigo quando chega.
O amor não é ciumento, nem infiel.

Ele é suave e calmo como águas cristalinas.
O amor é um sentimento tão antigo quanto o mundo,
Por ele, muita gente já morreu.
O amor é virtuoso, paciente, doador.
O amor não sangra o peito,
O amor acalma o coração.

O que faz mal ao amor é o egoísmo doentio,
É o sentimento de posse,
A nostalgia.
O amor arrebata corações e

multiplica-se em pedaços.
O amor é oração, é emoção.
O amor é vida bem vivida.
É seiva que alimenta a alma.
O amor é a própria vida.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

TERNURINHA...




TERNURINHA
Gracinda Calado

Aos que me gostam tenho imenso carinho,
Talvez seja amor, talvez seja paixão,
Só sei que tenho laços com todos vocês,
Mesmo sem conhecê-los sei que são reais.

Sinto-me perdida quando escuto alguém dizer,
Que gosta das minhas composições,
Dos meus versos e das minhas canções.

Sinto-me muitas vezes invadida no meu intimo,
Mas tudo faz parte do universo de quem faz versos.
Identifico-me com muita gente, amigo ou parente.
Tudo em comum tem algo de mim ou de você,
O que difere é o bem querer, é a qualidade do amor.

Amor de pai ou de irmão, amor dentro do coração,
São todos iguais, profundos verdadeiros,
Fiéis, profanos ou liberais, aventureiros,
Amor será sempre amor aqui e em toda parte,
Enquanto houver razão ou alma haverá paixão!

domingo, 14 de setembro de 2008

FICA COMIGO


FICA COMIGO.
Gracinda Calado

Fica comigo nesta noite fria,
Na despedida desse amor tão forte,
Fica comigo só mais uma vez,
Não despreze assim a nossa sorte.
Quero sentir o calor de tuas mãos,
O teu perfume suave embriagador,
Na cama macia teu corpo ardente,
Quero sentir pulsar teu coração.
Quero sentir o gosto de teus lábios,
Dizendo-me palavras de amor,
Quero sentir o brilho de teus olhos,
Na escuridão da noite sem temor.
Tua voz rouca e macia me acalenta,
Teu peito forte me segura e acalma,
A noite que é só nossa já termina,
Na paz de um amor e duas almas.
Fica comigo só mais uma noite,
A noite dos casais enamorados
Já vai longe a madrugada fria,
Nas ruas solitárias da cidade.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008


Saudades
Gracinda Calado

Quando te vi pela primeira vez,
Nunca pensei em te querer assim,
Olhei teus olhos lindos e brilhantes,
Chamou minha atenção a tua tez.

Naquele baile, a nossa canção,
Teu olhar de mim não se afastava,
Ao entregar-me toda para dançar,
Senti bater forte o teu coração.

A música tocou mais uma vez,
Boleros e canções no ritmo lento
Tudo parecia com nós dois,
Até no dia de nosso casamento.

Ninguém amou assim como te amei,
O céu ligou tua alma na minha,
Duas almas gêmeas renasceram,
Naquele dia de rei e de rainha.

O MITO DA CAVERNA


O MITO DA CAVERNA
Gracinda Calado

Aqui não há lugar, nem luz,
Só uma sombra escura vejo,
Meus olhos estão embotados,
Meu corpo estático como a cruz.

Pessoas passam como sombras,
Não há nenhum sinal de luz,
No fundo escuro da caverna,
Quero encontrar-me com Jesus.

Aqui, não me alimento de solidão,
Procuro ser forte a todo instante,
Tento entender o que se passa
Dentro da sombra, nessa escuridão.

Vejo pessoas amordaçadas,
Crianças famintas, humilhadas,
Velhos tristes e perseguidos,
Mulheres sofrem, maltratadas.

Uma réstia de luz incandescente,
Iluminou a porta da caverna,
Alguns correram para ver a luz,
Outros ficaram dentro do buraco.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

MONÓLOGO: CASTELO DOS MEUS SONHOS


MONÓLOGO
CASTELO DOS MEUS SONHOS


Gracinda Calado

“Era um castelo encantado.”

Estou aqui pra ti ver, falar contigo,
Sentir o teu cheiro forte de passado,
Desarrumar teus baús e no fundo encontrar meus tesouros.
Não sei por que estou a ti falar em tom severo, se depois de tantos anos,
De separação eu te deixei?
A minha alma até hoje sente a tua falta;
Teus segredos, teus carinhos, nunca me esqueceram.
Aqui nesse castelo os dias já foram de alegria.
Talvez, não sei, de tristezas também.
Do outro lado da rua ficava a casa do meu bem.
Todas às tardes ficava na janela para me ver passar.
Às vezes mandava bilhetinhos pela moça da varanda ao lado.
Morria de vontade de ir até lá falar-lhe qualquer coisa!
Tu és a testemunha fiel de que fui fiel ao seu apelo.
De repente eu estava apaixonada e ele também.
Lembro-me do meu primeiro poema, foi pra ele, e ele ficou todo prosa!
Aí veio a resposta, não gostei! Sabes por quê? Estava muito apaixonado!
Não acreditei.
Tuas paredes não mudaram, são fortes e seguras, nem o vento derrubou!
Na minha vida tudo mudou, estou só, sem amor, sem ninguém.
Não esqueça de guardar os meus segredos no castelo de meu bem!

O CAMINHO DOS SONHOS


O CAMINHO DOS SONHOS
Gracinda Calado

Quando um amor acontece
Nas caladas da noite da alma,
Um cantador dedilha uma viola,
Canta o que vai dentro do peito.

As canções são mágicos chorões,
São orações, lindas canções.
As estrelas são jóias musicais,
O clarão da noite melodias.

O luar manto sagrado de ilusões,
Alma de seresteiro é uma prece,
Nos acordes doces do seu violão,
Seus pensamentos são as trovas,
Suas rimas são meras situações.

Quando um grande amor fenece
Tudo fica triste a alma padece,
O dia fica triste, infeliz sem amor,
O céu já não é mais tão azul,
As estrelas já perderam a cor.

Vivo escutando o seresteiro,
Nas lindas noites de luar,
Enquanto toca a sua viola,
Parece que a alma chora,
No seu triste jeito de cantar.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

DORALICE


DORALICE
Gracinda Calado

Uma jóia de mulher. Inteligente, sábia e tem muito de filósofa.
Sua idade, não diz a ninguém.
Foi secretária de meu Pai quando morava em Baturité no serviço militar, nos anos 40. Gosta muito de ler lindos romances. A ultima vez que estive com ela disse-me que catalogou 1000 romances, e o mais curioso é que ela sabe e se lembra de quase todos com os títulos e os autores.
Doralice é uma figura fantástica! Ela merece uma homenagem pela pessoa boa, educada e inteligente, razão porque recebeu do comando do Exército no Ceará uma comenda e diploma pelos serviços prestados à comunidade de Baturité auxiliando no serviço militar durante 20 anos.

Meu pai era chefe do serviço militar do interior, com sede em Baturité, e ela funcionária da prefeitura, escriturária. Meu pai pediu ao prefeito da época, lá pelos anos 47/48, uma funcionária, com ordem do Comandante do Exercito, para ajudar no alistamento militar do município, que os trabalhos cada vez se acumulavam por causa dos acontecimentos da 2ª guerra. O escritório da regional militar funcionava no prédio da prefeitura, ao lado do gabinete do prefeito. Para satisfação de todos, a escolhida foi Doralice, pelo desempenho de suas funções naquela prefeitura. A secretária “Dora”, como era carinhosamente chamada foi professora, alfabetizadora da qual se orgulhava muito.
A caligrafia de “Dora” era perfeita, linda, parecia um desenho.
Seus relatórios eram impecáveis, sem erros, sem rasuras.
Doralice é uma figura rara na cidade de Baturité onde nasceu e vive até hoje, sozinha, depois de perder três irmãs mais velhas.
A minha querida Dora deixo nesse artigo a minha homenagem e o meu abraço sincero de amizade, e muito amor. Meus pais já não mais existem e se fosse o contrário tenho a certeza que eles a abraçariam com o mesmo ardor que eu a abraço agora. Beijos minha querida Dora.

A CULPA FOI DO VENTO
Gracinda Calado

Em uma noite de verão, soprava o vento sul.
A noite abriu suas asas negras como pássaro,
No leito enorme da praia, sob o céu azul,
Um corpo rolava pela areia da praia escura.

De repente um vendaval estranho cobriu tudo,
Uma nuvem de poeira cósmica caiu do céu,
Cobriu o corpo dos amantes das estrelas,
Com suas grandes asas azuis de cristal.

O ronco do vento passou como um tufão,
Arrastando tudo em sua frente para o mar,
Sem pedir licença, sem aviso e sem perdão,
Na calada da noite escura de sonhar.

Do mar saíram grandes dragões e sereias
A força do vento não parava de crescer,
E a noite foi ficando cada vez mais perigosa,
E o mar venceu seu casamento com as areias.

A culpa foi do vento que não esperou o amor,
Correr atrás de quem só geme a dor e chora
A dor de ser sozinho no turbilhão da noite escura
Com medo da maldição da noite escura, se apavora.

A culpa foi do vento que chegou como vendaval,
Não ficaram praia, nem areias brancas reluzentes;
O céu tomou seu rumo, foi ao encontro das estrelas,
O mar sumiu com suas lindas ondas de cristal.

domingo, 7 de setembro de 2008


INDEPENDENCIA OU MORTE!
Gracinda Calado

Em outros tempos dominados pela ditadura militar, os desfiles criavam alma nas ruas das cidades. Eram militares e estudantes disputando o espaço público em todos os lugares. Bandeiras e coloridos verde- amarelos dominavam o corpo das grandes avenidas acompanhados de interessantes dobrados.
Os pelotões puxavam seus contingentes e a marcha criava raízes no chão desse país.
Lembro-me dos desfiles que participei em pleno sol das 11: h00,no dia 7 de setembro, o suor escorria em todo o corpo e ninguém reclamava o ‘mal estar’.
O que fizeram com as lembranças daqueles jovens que dedicavam suas vidas pela pátria! A noção de patriotismo era muito forte e alimentada pelas forças armadas como se fossemos nos preparar para alguma guerra em defesa de nossa pátria.
Hoje, calam-se as bandas de músicas, mudam-se as cores para vermelho ou branco, os jovens não sabem porquê o dia da Pátria é 7 de Setembro! Fecham-se as portas das escolas, emudecem os hinos e a independência ou morte só existe nas favelas nos tiroteios dos traficantes, atrelados até os dentes de armas e poderosas munições.
Quem fez tudo isso com nosso povo? O que fazem agora com a nova juventude?
O que fazemos nós com nossos votos? Estou cansada de votar errado. Não sei se por não saber ou por não ter em quem votar!
Enquanto isso imploramos por independência e não a morte.

PARIS É UM SONHO


PARIS É UM SONHO
Gracinda Calado


O sonho de conhecer Paris é tão grande que às vezes acordada vejo-a nos meus pensamentos.
Imagino uma grande coroa de luzes coloridas em cada esquina a brilhar a noite inteira.
Pessoas que vão e vêm sem dar satisfação a ninguém; vestem-se elegantemente com o charme daquelas roupas de frio como se estivessem em uma grande passarela.
As boates e os cassinos cheios onde a diversão é uma devoção nas noitadas da cidade luz.
Casais de namorados passeiam, braços dados, agarradinhos depois de três ou quatro vinhos nos bares da margem do rio Louvre.
Músicas se espalham por toda a cidade das luzes e seus letreiros piscam a noite toda. Os boêmios enfrentam o burburim das ruas e vão em busca de realçar seus sonhos quase verdadeiros nos braços das mulheres e nos copos de bebidas quentes.
A noite é uma crianças enquanto o sol não chega para acabar com as brincadeiras.
Em noite de Natal a impressão que se tem é que o céu caiu com todas as estrelas no chão! O manto multicolorido se estende por toda a cidade fazendo em cada coração uma festa.
O perfume se eternizou em Paris pelas fábricas de essências mais poderosas do mundo. O vento frio da noite faz com que as pessoas estejam sempre acompanhadas, nos bares, nas tabernas, nos grandes cafés, nas chocolatarias, nos clubes e em todos os lugares.
O bom gosto das pessoas em usar jóias e sapatos finos é uma marca registrada dos franceses, como também beber um bom vinho da safra francesa.
Um dia irei à Paris e realizarei o meu grande sonho!

sábado, 6 de setembro de 2008

Atenção!

O texto abaixo "Debaixo de tuas mangueiras..." tem erro.
Corrigir a leitura no inicio como: "íamos todos passear".Obrigada!

NÃO QUERO ME APEGAR AO PASSADO


NÃO QUERO ME APEGAR AO PASSADO

Gracinda Calado

Muito distante de mim as recordações do passado que me apavoram e me entristecem o coração.
Apesar da feliz infância, morro de tristeza ao falar do passado.
Como conviver com sombras que vagueiam embotando tudo a todo o momento?
O exercício é muito grande e o efeito é muito bom.
As sombras passam como pequenos e ligeiros sonhos, que se desfazem mais rápidos ainda.
Mania de querer o impossível, inatingível na vida que tudo grava e memoriza na lembrança como um grande cérebro de computador.
Vou deletando tudo que a mim não convém.
Passo há viver o dia a dia projetando um futuro que não muito longe seria alcançável; fico embevecida nesse projeto o dia todo.
Mergulho na leitura e literatura moderna e nela bebo e como o desfrutar de todas as sabedorias.
Penso o futuro como um projetar de imensas cores, arco-íris de ilusões e magias.
Meu corpo é forte nesse instante ao pensar em viagens, excursões e passeios.
Durmo e sonho com uma vida que tem minhas experiências e minhas marcas.
Vez ou outra volta o fantasma do passado dominando tudo.
Aproveito dele o que de bom ficou e volto a dormir tranqüila no meu travesseiro de perfumes e aceitações.
Ó quanta coisa tenho para dar ainda!
Quantos sonhos que eu não sonhei e não vivi!
Procuro no meu viver diário um sentido para minha vida e na oração um pouco de sossego.
Meu coração não é vazio. O amor domina tudo quando a alma não é mesquinha.

DEBAIXO DAS TUAS MANGUEIRAS
Gracinda Calado

Aos domingos íamos todos passearem no sitio.
O rio Pacoti lavava suas terras e deixava-as férteis.
Nosso passeio começava na invasão das fruteiras que desafiavam nossa curiosidade.
As goiabeiras carregadinhas de frutos e de flores deixavam um perfume no ar.
As siriguelas vermelhas eram convites à loucura e o exagero as gulodices. Enfrentávamos aqueles manjares dos deuses logo de manhã, bem o sol não havia ainda esquentado a terra.
Aquele chão abençoado era mágico, para onde se olhava era um convite à sedução.
Debaixo das mangueiras fazíamos projetos e contávamos histórias mirabolantes, que só nós ainda adolescentes acreditávamos.
Aos poucos o som de algumas mangas que caiam no chão nos despertava da emoção de um bom enredo de nossas histórias. Corríamos todos para pegar aquelas frutas doces caídas do pé.
Às vezes deixávamos levar pelo fascínio do ambiente e deitávamos debaixo das frondosas árvores usufruindo suas sombras.
Sonhávamos com coisas encantadas, lugares mágicos e indescritíveis, ao mesmo tempo em que nos deixávamos levar pelas nossas emoções e chorávamos quando alguém vinha em nossa direção e nos levar de volta para casa.
Sofríamos na despedida daquelas mangueiras frondosas encantadas para todos nós.
O dia era uma primavera em flor em nossos corações juvenis.
“ À sombra de tuas mangueiras éramos muito felizes”.
DEBAIXO DAS TUAS MANGUEIRAS
Gracinda Calado

Aos domingos íamos todos passearem no sitio.
O rio Pacoti lavava suas terras e deixava-as férteis.
Nosso passeio começava na invasão das fruteiras que desafiavam nossa curiosidade.
As goiabeiras carregadinhas de frutos e de flores deixavam um perfume no ar.
As siriguelas vermelhas eram convites à loucura e o exagero as gulodices. Enfrentávamos aqueles manjares dos deuses logo de manhã, bem o sol não havia ainda esquentado a terra.
Aquele chão abençoado era mágico, para onde se olhava era um convite à sedução.
Debaixo das mangueiras fazíamos projetos e contávamos histórias mirabolantes, que só nós ainda adolescentes acreditávamos.
Aos poucos o som de algumas mangas que caiam no chão nos despertava da emoção de um bom enredo de nossas histórias. Corríamos todos para pegar aquelas frutas doces caídas do pé.
Às vezes deixávamos levar pelo fascínio do ambiente e deitávamos debaixo das frondosas árvores usufruindo suas sombras.
Sonhávamos com coisas encantadas, lugares mágicos e indescritíveis, ao mesmo tempo em que nos deixávamos levar pelas nossas emoções e chorávamos quando alguém vinha em nossa direção e nos levar de volta para casa.
Sofríamos na despedida daquelas mangueiras frondosas encantadas para todos nós.
O dia era uma primavera em flor em nossos corações juvenis.
“ À sombra de tuas mangueiras éramos muito felizes”.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

FILHO PPRÓDIGO EM ORAÇÃO


FILHO PRÓDIGO EM ORAÇÃO

Gracinda Calado

Quando na solidão me encontrei, senti saudades de ti.
Meu peito sofria com as minhas ingratidões.
Muitas noites chorei pensando em ti, e tu estavas perto.

Nas noites escuras do pecado, caminhei sozinho,
Sem rumo ou direção para as tabernas da cidade das trevas.
Nem o teu nome eu lembrava para não sofrer mais.

Sozinho, abandonado depois de tudo perder, choro o infortúnio.
Meus pés não sabem mais caminhar, não encontro chão,
Minha casa é um buraco sem cômodos decentes pra viver.

Seduziste-me Senhor, e eu me deixei seduzir depois de te fazer sofrer,
Todos zombam de mim, pois não tenho lar nem pão, só solidão,
Em vão me desespero ao pensar em ti e no teu amor por mim.

Agora peço o teu perdão, o teu auxilio o teu carinho,
Ajuda-me a enfrentar sozinho o desafio do mundo vil,
Ajuda-me a lavar a minha alma da lama do pecado.

Maldito o dia que nasci assim e minha mãe me deu a luz.
Maldito os meus dias de confusão e desordens sem ti,
Agora volto a ti com o coração e peito aberto para te amar.

Estou perdidamente apaixonado por ti e por meu Deus,
Bendito os dias que sofri e te esperei na ânsia de falar-te,
Bendito és por perdoar um infeliz do mundo pecador!

ENQUANTO O SOL NÃO VEM


ENQUANTO O SOL NÃO VEM
Gracinda Calado

Anoitece na minha cidade!
Pouco a pouco tudo se tornará tranqüilidade.
O bosque exibe suas árvores carregadas de flores da primavera, exalam um perfume maravilhoso. Aproveito tudo e caminho até minha casa.
Serena, volto ao lar depois de um dia de trabalho.
Depois da ceia noturna leio um livro, e releio os sonetos de Camões. Encho-me de belezas literárias e vou dormir.
São 3 horas da madrugada. Acordo, sem nenhum motivo vou à janela e olho a rua.
A noite está morna, sem nenhuma brisa para refrescar a madrugada que se aproxima.
O conjunto de luzes acesas dos apartamentos, parece uma chuva de estrelas no ar.
Aos poucos algumas janelas se abrem e as luzes se apagam.
Por uma faixa de visão, avisto o mar distante, sinto que a manhã já está chegando, lenta e calma.
No céu umas nuvens escuras ameaçam transformar a paisagem da janela.
Devagarzinho as ruas acordam, enquanto o sol derrama uma luz clara sobre a cidade sonolenta. Preguiçosamente os coletivos se arrastam pela avenida principal do bairro e os trabalhadores do dia correm para pegar suas conduções. Os vigilantes da noite voltam para casa sonolentos e cansados.
Amanhece e a luz do sol agora intensa cobre toda a cidade.
Foi-se embora mais uma noite e eu nem notei!