sexta-feira, 28 de setembro de 2012

O RELÓGIO E O RETRATO


(Gracinda Calado)

Confesso que sinto um grande encantamento pelo relógio!
Dele dependo a maior parte do meu tempo.
Entrego a minha vida e meu destino em seus ponteiros vadios de lidar com o tempo.
Tece as horas embaladas pelo tempo que roubou.
Anuncia o tempo que foi gasto nos devaneios, nas disputas e nas concorrências da vida.
Quem nunca possuiu um relógio? Certamente não sabe de que estou falando agora.
O retrato e o tempo são amigos, neles o preço de histórias e de segredos, lembranças perdidas do passado e fatos do presente: No retrato as marcas de um destino, uma juventude ultrapassada, marcas que se foram pelos caminhos da vida, perfil de saudades, amores vividos e romances acabados, encontros e desencontros de primaveras, sinais do tempo e do vento!
O relógio faz questão de marcar a cada hora o que se vai, avisando que o tempo já passou!
Não serei amiga do tempo sem ver o relógio nem revelar meu retrato!
Há outros que preferem sofrer a deixar de ver o relógio, e as horas batem loucas para irem embora!
Grande invenção, o relógio, boa invenção o retrato, neles marcamos histórias, contamos passados, fugimos para o futuro, sempre a olhar pelo relógio, e o relógio não pára de avisar as horas que passaram e as que hão de vir e o retrato a nos avisar que estamos passando...
Olho o retrato e na parede junto ao relógio, há uma história inteirinha de vida a minha espera!



terça-feira, 25 de setembro de 2012

SOU ASSIM...


Gracinda Calado

Às vezes tento caminhar em direção ao sol.
Oriento-me pela bússola da razão e às vezes encontro-me entregue ao coração.
Tento olhar o céu com olhos de poetas e sonhadores, acordo em sedas e cetins ou na relva fresca da madrugada fria.
Tento voar nas asas da saudade quando não encontro chão.
Meu pensamento voa alto procurando um ninho pra pousar ou um colo quente para me abrigar.
Sou como um pássaro que foge em busca de outras terras pra pousar.
Sigo o caminho do céu, esforço-me para chegar. Rastejo-me na relva rasa dos jardins dos corações.
Canto sempre uma canção para espantar meu sono e o som da minha voz sustenta-me na hora em que eu mais preciso.
Confio na força do universo e na energia das estrelas, sonho com os anjos e me inspiro no meu Deus!




CHEGADAS E PARTIDAS


Gracinda Calado

De repente na estação. Todos os olhos demonstram um medo ou ansiedade. As pessoas andam para lá e para cá, não se cumprimentam, não falam, ficam pensativas, olhares distantes reflexivos...

Nos bancos da estação a espera corroi o peito enquanto esperam e de “olho” no relógio suam as mãos e os pés.
Em cada coração pulsa uma saudade, dos que se vão, ou dos que ficam com vontade de partir também. Por um momento fleches de alegria invadem a passarela da estação como se o trem se aproximasse para acabar de vez com a angustia dos que ficam e aliviar a dor e a saudade dos que partem.
Choros e lágrimas calidamente escorrem nos rostos pálidos de algumas pessoas que partirão para nunca mais voltarem. Deixam atrás momentos de amores que passaram e nos desencontros de primaveras não souberam fechar o enredo de sua história. Os últimos momentos são eternos e delirantes na incerteza de não saberem o que o destino espera para acontecer.
Casais de namorados despedem-se com beijos e abraços, como se fossem os últimos de suas vidas. Enquanto isso o trem apita na curva do caminho avisando a chegada e em breve apitará avisando a partida.
O sino toca, depois de alguns minutos de pausa para as despedidas. Poucos são os minutos que correm rápidos separando os pares na estação. Todos tomam seus lugares. O trem começa a sair vagarosamente e os acenos se encontram na despedida louca de um adeus!
O que restou de tudo foram momentos que se foram com os que partiram, e a estação está deserta, calada, vazia, pois todos já seguiram seu destino. Os que ficaram saem sorrateiramente ainda enxugando as lágrimas derramadas nas saudades.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

NO SILÊNCIO DA NOITE


Gracinda Calado

É no silêncio da noite que minha voz ecoa,

Debaixo deste céu estrelado de notas azuis,

Deixo falar meu coração perto do teu.


É no silêncio que se cala a alma,

Para ouvir os gemidos do coração.

Neste quadro frio desta noite calma.

Ouço vozes e sussurros mais além,

É o vento frio que passa e que vem

Amenizar a noite calma do meu bem.


Silencio frio imortal sem alma,

Fala ao meu ardente e doce coração,

Uma palavra de amor que acalma.

Na noite fria de tantos amores,

Só o silencio fala para nós dois,

Na noite escura de místicos temores.

Ò pobre alma, ilusão errante!

Vida da minha vida, luz verdadeira,

Divina prece de um amor distante!