quarta-feira, 23 de abril de 2008


QUANDO EU ERA CRIANÇA...
Gracinda Calado


“ QUANDO EU ERA CRIANÇA PENSAVA COMO CRIANÇA”...

Pensava que os pássaros voavam até chegar ao céu;
Que todas as mães eram santas e puras;
Que os anjos falavam a linguagem do paraíso,
Que só Deus entendia suas falas.
Quando eu era criança pensava que os carneirinhos brincavam
Nas nuvens brancas e eu ficava momentos contando suas passagens.

Que o mar findava no encontro com o céu, por isso era azul.
Que são Jorge montava um cavalinho branco na lua.
Que a alma da gente viajava no espaço e ouvia os sons do universo.
Que as palavras nasciam da música de um piano (por causa da partitura).
Que o barquinho corria ligeiro empurrado pelas ondas do mar.
Que o vento ouvia a gente falar de amores e levava essas palavras para bem longe!

Que no fundo dos oceanos moravam dragões e sereias.
Que nas praias, as conchas, levadas aos ouvidos
Imitavam os sons do barulho das ondas.
Que meus pais nunca morreriam...
Que Deus amava as criancinhas e nunca as deixariam sós.
Que do outro lado do mar, existia uma cidade perdida,
Onde moravam os reis e as rainhas em seus castelos.

Que a tristeza não existia, era coisa de gente grande.
Que a dor e o sofrimento só existiam com os poetas.
Que toda alma éra música que se tocava sem parar.
Que a vida é um mistério de Deus;
Que o fogo era feito de feitiço e de magia;
Que Deus morava nas igrejas e passeava com os anjos no céu.

Hoje, penso como gente grande: a alma sente nostalgia e muitas vezes é prisioneira.
Hoje me vejo ainda como criança quando volto ao passado;
Meu coração ainda pulsa como criança, mas não fala como criança;
Nem pensa como criança.
Como adulta, faço a viagem em sentido contrário.
Rastejo-me nas pegadas de minha infância feliz e abençoada.

Hoje minha alma sente saudades das minhas origens.
Às vezes se sente estranha, acanhada...
Anda para trás e navega ao sopro das recordações;
Hoje minha alma é de poeta, sofre a dor de ‘enganador’;
Nos versos que eu quero arrancar de meu interior!

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