sábado, 29 de março de 2008


ATRAVÉS DA MINHA JANELA
Gracinda Calado



Através da minha janela vejo a chuva que cai silenciosamente. Gotas minúsculas explodem como bolinhas de cristal e caem no chão em forma de água para refrescar a rua.
Vejo o sol que se esconde de vez em quando, parece fugir da chuva que não para de cair.
O tempo fechou e a noite parece que chegou mais cedo.

Na rua não passa ninguém. Os gatos procuram um cantinho para se esquentar.
Na solidão da rua luzes se ascendem, e em cada casa se ver que a noite já chegou.
Apesar das luzes da cidade, tudo é triste e vazio como muitos corações.
Uma névoa da noite cobre as flores dos jardins dos condomínios.

Nas praças ninguém se afoita a sentar num banco, molhado pela chuva.
Através da minha janela ouço passos rústicos e corajosos no asfalto da rua: são os puxadores de carrinhos de sucatas, que não temem a chuva fina que cai.
Viram e reviram os restos e sobras que estão expostos nas calçadas, para levarem para casa o sustento de seus filhos.
Catam latas e garrafas, vidros e ferros, alumínio e outros objetos que foram desprezados pelos mais abastados da rua.

Fico pensando: que triste vida essa, desses pobres coitados!
Muitas vezes reclamamos de nossas vidas... Eles saem satisfeitos quando encontram alguma coisa.
Passam a noite nessa peregrinação e ainda são cognominados de marginais, ladrões, drogados, nunca de trabalhadores.
Eles não têm carteira assinada nem patrão, são miseráveis marginalizados pela sociedade. São excludentes ou excluídos pelo preconceito radical da classe média.
Enfrentam o sol e a chuva e seguem em frente sem medo do trabalho!

Nossos irmãos em Cristo moram nas ruas tristes, ou nos viadutos das cidades, não sabem o que é um prato quente de comida.
A chuva continua...O guarda do quarteirão passa e dá sinal em sua moto, vestido de capa para se proteger do frio da noite. Os pobres miseráveis do destino não se protegem. Continuam a empurrar aquele carro de sucatas á noite inteira.Outros carrinhos se aproximam e saem por aí competindo suas misérias pela noite afora.

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