quarta-feira, 17 de agosto de 2011

FRAGMENTOS INTERIORES


GRACINDA CALADO

Abri a porta. Nenhuma luz dentro da sala. Os móveis continuam nos lugares de sempre.O cheiro de mofo é embriagador.

Quantos anos são passados? Quantas noites e quantos dias sem a luz que iluminava tudo nos seus lugares?

Olho no quarto, a velha cama não se encontra mais. Na parede os quadros de Jesus e Maria, estão desbotados e perderam a cor. Estão pálidos, como as saudades que sinto agora e a tristeza que me angustia.

O baú que guardava os falsos tesouros, sem vida, violados pelo tempo que levou os segredos, que outrora significava importância e mistério.

O espelho na parede, corroído pela erosão do tempo, reflete mil imagens destorcidas, fantasmagóricas, imperfeitas, não segurou o tempo com sua força estranha de ver o tempo passar em cada rosto e em cada ruga.

Onde está a rede que embalava meus sonhos de criança? Ainda ouço o ruído do armador que eu pincelava com óleo para não fazer barulho.

Que saudades dos dias felizes que aqui vivi. A mesa grande, coberta de lindas toalhas bordadas de labirintos, alva como algodão. Os talheres brilhavam a luz do dia como prata de quilate especial. Os copos de vidro pareciam finos cristais...

Ainda vejo no canto ao lado do fogão, minha querida Maria fazendo doces e comidinhas gostosas para nós, e minha mãe preparando o pé de moleque mais gostoso da cidade!

Ainda ouço a voz de meus pais na hora das refeições, nos convidando para o almoço ou jantar. Na sobremesa, meu pai descascava frutas para todos nós, e no seu rosto a luz da felicidade brilhava em seu olhar, e no seu sorriso o prazer de ter todos os filhos ao seu redor!

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