sexta-feira, 6 de agosto de 2010

QUANDO EU ERA CRIANÇA

QUANDO EU ERA CRIANÇA...

Gracinda Calado


“QUANDO EU ERA CRIANÇA PENSAVA COMO CRIANÇA”...


Pensava que os pássaros voavam até chegar ao céu;

Que todas as mães eram santas e puras;

Que os anjos falavam a linguagem do paraíso,

Que só Deus entendia suas falas.

Quando eu era criança pensava que os carneirinhos brincavam

Nas nuvens brancas e eu ficava momentos contando suas passagens.

Que o mar findava no encontro com o céu, por isso era azul.

Que são Jorge montava um cavalinho branco na lua.

Que a alma da gente viajava no espaço e ouvia os sons do universo.

Que as palavras nasciam da música de um piano (por causa da partitura).

Que o barquinho corria ligeiro empurrado pelas ondas do mar.

Que o vento ouvia a gente falar de amores e levava essas palavras para bem longe!

Que no fundo dos oceanos moravam dragões e sereias.

Que nas praias, as conchas, levadas aos ouvidos

Imitavam os sons do barulho das ondas.

Que meus pais nunca morreriam...

Que Deus amava as criancinhas e nunca as deixariam sozinhas.

Que do outro lado do mar, existia uma cidade perdida,

Onde moravam os reis e as rainhas em seus castelos.

Que a tristeza não existia, era coisa de gente grande.

Que a dor e o sofrimento só existem com os poetas.

Que toda alma é música que se toca sempre.

Que a vida é um mistério de Deus,

Que o fogo é feito de feitiço e de magia,

Que Deus mora nas igrejas e passeia com os anjos no céu.

Hoje, penso como gente grande: a alma sente nostalgia e muitas vezes é prisioneira.

Hoje me vejo ainda como criança quando volto ao passado,

Meu coração ainda pulsa como criança, mas não fala como criança,

Nem pensa como criança.

Como adulta, faço a viagem em sentido contrário.

Rastejo-me nas pegadas de minha infância feliz e abençoada.

Hoje minha alma sente saudades das minhas origens.

Às vezes se sente estranha, acanhada...

Anda para trás e navega ao sopro das recordações;

Hoje minha alma é de poeta, sofre a dor de ‘enganador’;

Nos versos que eu quero arrancar de meu interior!

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