sábado, 27 de fevereiro de 2010

FRAGMENTOS INTERIORES



FRAGMENTOS INTERIORES


GRACINDA CALADO


Abri a porta.Nenhuma luz dentro da sala. Os móveis continuam nos lugares de sempre.O cheiro de mofo é embriagador.


Quantos anos são passados? Quantas noites e quantos dias sem a luz que iluminava tudo no lugar?


Olho no quarto, a velha cama não se encontra mais. Na parede os quadros de Jesus e Maria, estão desbotados e perderam a cor. Estão pálidos como as saudades que sinto agora e a tristeza que me angustia.


O baú que guardava os tesouros, sem vida, violados pelo tempo que levou todos os segredos, que outrora significava importância e mistério.


O espelho na parede, corroído pela erosão do tempo, reflete mil imagens destorcidas, fantasmagóricas, e imperfeitas, não segurou o tempo com sua força estranha de ver o tempo passar em cada rosto e em cada ruga.


Onde está a rede que embalava meus sonhos de criança? Ainda ouço o ruído do armador que eu pincelava com óleo para não fazer barulho.


Que saudades dos dias felizes que aqui vivi. A mesa grande, coberta de lindas toalhas bordadas de labirintos, alva como algodão. Os talheres brilhavam à luz do dia como prata de quilate especial. Os copos de vidro pareciam finos cristais...


Ainda vejo no canto ao lado do fogão, minha querida Maria fazendo doces e comidinhas gostosas para nós, e minha mãe preparando o pé de moleque mais gostoso da cidade!


Ainda ouço a voz de meus pais na hora das refeições, convidando-nos para o almoço ou jantar. Na sobremesa, meu pai descascava frutas para todos nós, e no seu rosto a luz da felicidade brilhava em seu olhar, e no seu sorriso o prazer de todos os filhos ao seu redor.


Casa velha querida da primeira dor, refugio das minhas saudades e da minha mocidade!

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