Gracinda Calado
A música revive em atos a
tua história: Um tango de Gardel.
O vento me traz momentos de
alegria em que passamos juntos no solar da velha casa da ponte.
À noite ouvindo o coaxá dos
sapos no jardim, ríamos de sua música dolente sem nexo ou sem entoação.
Os grilos faziam festa nas
trepadeiras amarelas e roxas, cheias de flores,
E nas roseiras pequenos
besouros atrevidos se encostavam,
Atraídos pelo perfume que
embriagava a todos.
Quieta em um canto eu ouvia
tuas histórias e façanhas do tempo da II guerra.
O sono chegava e minha mãe
levava-me pelo braço para dormir.
Recordo ainda o cheiro dos
teus charutos baianos, cuja fumaça se espalhava pelo ar,
E o teu olhar quase parado
no tempo recordava alguma história.
Que saudades de ti meu pai!
Dos teus cuidados, do teu
sorriso, da tua voz forte e do tom enérgico quando ralhavas por algum mal feito
meu.
Quando eu era pequenina e
ainda aprendiz das primeiras letras,
Levava-me para teu gabinete
de trabalho e me oferecias um caderno novo, lápis e borracha. Nele eu
desenhava, escrevia e brincava de professora com os meus alunos invisíveis.
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